quinta-feira

A experiência Soviética: A revolução na Rússia


Esta revolução anunciava-se havia muito tempo. O mal-estar era antigo, o regime estava dilacerado por múltiplas forças de desagregação, oposições políticas, forças sociais, partidos socialistas, minorias alógenas resistindo à política de russificação. As reformas empreendidas tinham abalado mais a estabilidade do edifício do que contribuído para o regenerar. Os reveses militares da guerra russo-japonesa, em 1904-1905, tinham enfraquecido o regime. Uma primeira revolução terminara bruscamente, em 1905, sem renovar o império.

Após 1914, se os primeiros meses da guerra começaram por ter como efeito, como, aliás, em todos os países beligerantes, um reforço da coesão interna, impondo silêncio às oposições, a continuação da guerra cedo acordou o mal-estar e o descontentamento. Os desaires, os sofrimentos impostos ao povo russo sem paralelo com os suportados pelos outros países, a organização deficiente do comando, dos reabastecimentos, da economia de guerra, prepararam a explosão que culmina com a abdicação do czar, em Março de 1917. É a segunda revolução russa.

Estabelece-se então uma república de facto, um governo provisório da burguesia liberal constitucional. Mas este regime será apenas uma transição: não possui autoridade, carece de apoios, não tem pessoal governamental preparado para enfrentar uma situação excepcional. A guerra é um problema quase insolúvel. Este governo pretende manter-se fiel aos seus compromissos, mas o povo quer a paz. O povo congratulou-se com a queda do czarismo, pois esperava que à mudança de regime sucedesse o fim da guerra. (...)

Os bolcheviques mantêm-se numa posição irredutível e apoiam-se num poder de facto: os sovietes. (...) No princípio de Novembro de 1917 - Novembro segundo o calendário ocidental, Outubro segundo o antigo calendário russo -, os bolcheviques desencadeiam uma terceira revolução, a definitiva, e tomam o poder quase sem um tiro.

É o início de uma experiência que ainda dura, o princípio de um capítulo absolutamente novo da história do mundo. (...)



RÉMOND, René - Introdução à História do nosso tempo. Do Antigo Regime aos nossos dias. Gradiva. Lisboa. 1994.

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